TRABALHADORES

Trabalhar com um Problema de Saúde Psicológica

Trabalhar ao mesmo tempo que se experiencia um problema de Saúde Psicológica não é fácil e coloca um conjunto de desafios.

Desafios e Benefícios

Dependendo das circunstâncias, alguns factores podem dificultar o facto de continuarmos a trabalhar ou o regresso ao trabalho depois de uma ausência.

Estas barreiras podem incluir:

  • Diminuição da autoconfiança devido ao problema de Saúde Psicológica;
  • Receio de que os colegas/gestores saibam sobre o nosso problema de Saúde Psicológica sem a nossa permissão;
  • Estigma associado aos problemas de Saúde Psicológica e medo de ser discriminado;
  • Incerteza sobre o tipo de apoio que estará disponível;
  • Preocupações sobre causas de stresse relacionadas com o trabalho que não tenham sido ou não possam ser resolvidas.

No entanto, continuar a trabalhar também pode ter benefícios. O trabalho pode até ter um papel importante na recuperação.

Por exemplo, trabalhar com um problema de Saúde Psicológica pode:

  • Melhorar a qualidade de vida e o bem-estar;
  • Dar estrutura e rotina à vida quotidiana;
  • Contribuir para que tenhamos objectivos;
  • Promover oportunidade para continuarmos integrados socialmente e receber apoio;
  • Oferecer segurança financeira.

Falar sobre Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho

Escolher se queremos, ou não, falar com o empregador e com os colegas de trabalho sobre o nosso problema de Saúde Psicológica é uma decisão pessoal, que depende de vários factores (por exemplo, a forma como o problema afecta ou não o nosso desempenho, a relação que temos com o empregador e os colegas ou o apoio que temos fora do Local de Trabalho).

Não é obrigatório informar o empregador, mas pode ser útil fazê-lo, sobretudo se quisermos contar com algum apoio no Local de Trabalho e possíveis adaptações e ajustamentos às nossas funções e horários.

Pode ser útil pensar nalguns “prós” e “contras”.

Ainda assim, pensar em ter uma conversa sobre o nosso problema de Saúde Psicológica pode parecer ameaçador. Podemos sentir-nos preocupados sobre possíveis reacções negativas ou apenas não sabermos o que havemos de dizer.

RAZÕES PARA CONTAR

● Discutir os nossos problemas de Saúde Psicológica oferece-nos a nós e ao empregador uma oportunidade para falarmos sobre mudanças que podem ser benéficas para nós e apoiar-nos enquanto estamos a trabalhar ou após a nossa recuperação;

● Fazer ajustamentos à nossa carga de trabalho pode reduzir os dias de absentismo e ajudar-nos a ser mais produtivos;

● Ao partilhar as nossas experiências, estamos a ajudar a melhorar as atitudes das pessoas relativamente aos problemas de Saúde Psicológica;

● Falar com os colegas de trabalho pode ajudar a evitar rumores e boatos;

● Se o seu desempenho ou produtividade mudou, falar com os colegas pode fazer com que sejam mais compreensivos com as suas dificuldades.

RAZÕES PARA NÃO CONTAR

● Os nossos problemas de Saúde Psicológica podem não afectar a nossa capacidade de desempenhar o trabalho;

● Podemos não precisar de qualquer ajustamento à carga ou horário de trabalho;

● Podemos ser discriminados ou proporcionarem-nos menos oportunidades de progressão na carreira;

● Para algumas pessoas os problemas de Saúde Psicológica podem passar, mas os rótulos e o estigma associados podem ser permanentes;

● Alguns empregadores não cumprem os procedimentos legais obrigatórios nestas situações;

● Podemos ter redes de apoio suficientes fora do Local de Trabalho e acharmos que não vamos ganhar nada em falar sobre os nossos problemas no trabalho.

Mesmo quando temos supervisores, gestores e colegas muito compreensivos, pode ser difícil falarmos sobre os nossos problemas de Saúde Psicológica. Podemos preocupar-nos em ser um peso para os outros ou ter medo de mostrar as nossas emoções. Para algumas pessoas os problemas de Saúde Psicológica são assuntos privados que não devem ser discutidos.

Muitas destas preocupações estão relacionadas com o estigma associado aos problemas de Saúde Psicológica e podem interferir com a nossa procura de ajuda.

Para ultrapassar estas barreiras pode ser útil lembrarmo-nos do seguinte:

  • Os outros podem não compreender aquilo pelo qual estamos a passar, mas isso não significa que não nos apoiem;
  • A conversa pode ser um pouco constrangedora – podemos não saber o que dizer e os outros podem não saber como reagir – mas a maior parte das pessoas sente-se aliviada depois de falar sobre o assunto.
Se decidirmos falar sobre o nosso problema de Saúde Psicológica, planear o que vamos dizer com alguém em quem confiamos pode ser útil

– pode ajudar-nos a estruturar as ideias e a informação que queremos partilhar. O detalhe da informação que partilhamos com o empregador é uma decisão pessoal, mas o empregador só precisa de saber o suficiente para nos poder apoiar.

– Podemos pensar antecipadamente se é do nosso interesse sermos específicos ou se é preferível falarmos apenas em termos gerais. Podemos levar informação sobre o problema ou uma declaração de um profissional de saúde.

– Tentarmos antecipar possíveis reacções e como lidar com elas também pode ser uma boa forma de nos prepararmos. Assim como falar com um colega mais próximo, que compreenda o funcionamento e as dinâmicas próprias do Local de Trabalho.

A altura e o contexto que escolhermos também podem ser importantes para nos sentirmos confortáveis. Podemos considerar:

– Se preferimos contar numa altura mais formal ou mais descontraída, se preferimos marcar uma hora e falar numa sala privada ou nos sentimos mais relaxados a falar numa área comum ou quando vamos beber café;

– Conversa longa ou breve – que nível de detalhe queremos partilhar? Quanto tempo vamos precisar para falar sobre o problema?;

– Com quem vamos falar? Supervisor, gestor, colegas?;

– Que nível de privacidade queremos manter?;

– O que o nosso supervisor ou gestor pode fazer para nos ajudar?;

– De que tipo de reacções estamos à espera?

– O que faremos se a reacção for diferente daquela que esperamos?.

É importante não esquecer que devemos respeitar a nossa privacidade!

Podemos (e devemos) ser selectivos sobre o que partilhamos. É impossível retirar o que foi dito, por isso só devemos falar sobre os aspectos com os quais nos sentimos confortáveis que os outros conheçam. Estes aspectos podem incluir, ou não, o diagnóstico, os sintomas, os medicamentos ou tratamentos específicos para o nosso problema de Saúde Psicológica.

Quando falamos com o empregador, pode ser útil considerar o seguinte:

  • Que motivos nos levam a falar sobre o problema?
  • O que pode o empregador fazer por nós (que adaptações e ajustamentos ao nosso trabalho)?
  • Existem factores e problemas no trabalho que contribuem para o nosso problema de Saúde Psicológica?
  • Explicar a forma como o problema afecta
  • ou não
  • a nossa capacidade de desempenhar o trabalho;
  • Clarificar as nossas expectativas quanto à confidencialidade da conversa.

Quando falamos com os colegas, pode ser útil considerar o seguinte:

  • Que grau de detalhe estamos confortáveis em revelar?;
  • Queremos partilhar o diagnóstico específico ou informação mais geral?;
  • Se preferirmos que o gestor fale com os colegas
  • o que lhes deve dizer?;
  • Como vamos responder a questões potencialmente insensíveis de colegas que não compreendem o que estamos a experienciar?;
  • Como descrever o que nos tem acontecido?.

Exemplo:
“Eu tenho um problema de Saúde Psicológica (nome ou descrição do problema) que estou a resolver. Continuo a poder realizar o meu trabalho (ou, no caso de existirem limitações: posso ter dificuldade em realizar estas e estas tarefas). Conseguiria trabalhar melhor se (propor soluções e ajustamentos possíveis). Às vezes pode notar que (sintomas ou comportamentos associados ao problema). Quando me vir assim pode (propor acções possíveis). Se estiver muito preocupado comigo pode ligar para (nome de contacto).”